Conheça a história da venezuelana Jesikka que mora em Curitiba

Conheça a história da venezuelana Jesikka que mora em Curitiba

Jesikka Balzán Rojas, 31 anos, é jornalista diplomada com especialidade em edição de vídeo e animação digital desde 2008. Estudou na Faculdade Rafael Belloso  Chacín da cidade de Maracaibo, Venezuela. Trabalhou em produtoras de vídeos, colaborou em cenografias de documentos, reportagens, talk shows e também exerceu a função de jornalista em vários jornais da Venezuela, por último, estava como designer e fotógrafa. Jesikka comenta que a versatilidade de funções a ensinou ser funcional e mais completa dentro da área de comunicação.

Em 2012 trabalhou no Ministério do Turismo da região Nueva Esparte (Ilha de Margarita), elaborou conteúdos turísticos bem como rotas para feriados, praias aptas para banho. Foi responsável pelos conteúdos turísticos a nível regional, nacional e internacional. Para Jesikka foi uma experiência única uma vez que era responsável  pela imprensa do ministério em que envolvia a entidade, o presidente e ao mesmo tempo tinha que estar à disposição de alguns ministros e vice-ministros.

Não concordava com muitas coisas do governo de Hugo Chávez, presidente da época, das estratégias, da maneira de tratar o povo, e por conta disto, se afastou da profissão e começou a trabalhar como designer gráfico, auxiliar administrativo e vendedora.

Jesikka em seus trabalhos na Venezuela

Jesikka em seu trabalho na Venezuela

Em 2015/2016 criou um projeto de turismo “Está na minha genética ser aventureira, sou mochileira de coração, então criei este projeto de rotas com bike onde eu poderia combinar várias atividades: tipo rotas pelas praias + 1 sessão de yoga, ou uma rota pela praia + 1 passeio de caiaque. Eu tinha alguns contatos, fiz a divulgação na medida em que eu conseguia, em emissoras de rádios, redes sociais, embora eu precisasse de mais recurso para dar continuidade na minha microempresa. Foi quando tomei a decisão de viajar para comprar algumas coisas e conseguir alguns dólares para salvar o projeto. Para mim se tornava cada vez  mais difícil ficar na Venezuela, eu tinha custos, quando, por exemplo, estourava um pneu da bike, eu tinha que comprar outro, e cada vez que eu ía  comprar, o valor era outro, bem mais caro. Era um absurdo. Para o empresário pequeno crescer no país era muito complicado, os custos não valiam a pena”.

Por conta das dificuldades  deixou toda sua vida na Venezuela e decidiu vir para o Brasil, em novembro de 2016 para colocar ordem em seus projetos. Primeira cidade  brasileira escolhida por Jesikka foi  Manaus.  Apesar de a língua espanhola ser parecida com a língua portuguesa, Jesikka conta que teve um pouco de dificuldade, e que foi uma loucura no começo se adaptar na comunicação. Sem contar que quando chegou ao hostel com seu namorado (na  época), teve seu cartão de crédito bloqueado.

Seu pai que estava na Venezuela não conseguiu falar com o gerente do banco, não conseguiu solucionar o problema. Conclusão: ficou sem dinheiro e como diz ela “jogada” no Brasil.

Desesperada Jesikka  escreveu em um pedaço de papel “ Procuro trabalho de qualquer coisa por 50 reais, fiquei sem grana no país” e foi andando pelas ruas de Manaus. A resposta veio rápida e acabou conseguindo um trabalho como diarista e de babá para cuidar de três meninas. A venezuelana conta que nesta experiência de trabalho aprendeu a tolerar, respirar fundo, ser paciente, ser forte, ser corajosa, além de aperfeiçoar o português.

“ Sorri e chorei. Mas tudo deu certo, fiz o que nunca havia feito em minha casa, em meu país, mas tudo bem. Consegui sobreviver, a mãe das crianças foi muito boa para mim”.

Começou a vender frutas, comprou uma bike para vender doces pela cidade, e acabou machucando o pé na bicicleta. Meses depois nasce seu filho em Manaus, Damián.

Com muita dificuldade em novembro de 2017 resolveu mudar  para Curitiba junto com seu marido. Ficou em dúvida entre  Curitiba e Florianópolis. Mas por conta do clima, parques, oportunidades, escolheu a capital do Paraná devido às novas chances de emprego. Quando se estabeleceu em Curitiba Jesikka se separou do marido, ficou com seu bebê, aprendeu a fazer pão caseiro para vender, trocou o carrinho do bebê que ganhou  por uma bicicleta e começou a vender pão junto com seu filho.

Jesikka e seu filho Damián em Curitiba

Jesikka e seu filho Damián em Curitiba

Ela conta que teve muita sorte em encontrar  pessoas boas em seu caminho  quando chegou, em Curitiba. Ganhou a maior parte da mobília da sua casa, e recebeu ajuda no pagamento do aluguel de onde morava. Uma das senhoras que a ajudou foi quem ensinou Jesikka a fazer o pão de batata.

Atualmente trabalha como auxiliar administrativo  em um condomínio no bairro da Vila Izabel, deixou de vender os pães caseiros para se dedicar mais ao filho. Escreve para um blog com conteúdos sobre viagens onde ela conta suas experiências, até as engraçadas. Apesar das dificuldades ajuda com doações para os venezuelanos.

Fica um nó na garganta

Jesikka fica um pouco constrangida quando comenta que uma vez ou outra,  envia dinheiro aos pais, mesmo eles não concordando com a ação por conta de ela ter um filho para criar. Mas ela conta que eles nunca serão um obstáculo.

“A situação está cada vez pior em que meu país. São milhões de venezuelanos que sofrem e fogem do regime da ditadura disfarçada de democracia com governantes sem escrúpulos e corruptos”.

“ Meu pai é ex-funcionário da  PDVSA ( empresa de petróleo) e minha mãe trabalha em uma empresa particular de peças para carro. Os dois lutam todos os dias para encontrar alimentos com bom preço, hoje meu pai é aposentado. Fico triste porque meu pai trabalhou a vida inteira para ter uma vida tranquila, e não é o que acontece”.

Jésikka diz que venezuelano é sentimental e dramático. É família. E nessa época de natal vendo as decorações natalinas em Curitiba, ela se lembra dos pais sozinhos na Venezuela.

Porém, hoje ela agradeça ao Brasil, por ter uma política humanitária e por acolher muitos venezuelanos e permitir que fiquem  aqui o tempo que for necessário.

Pretende ficar no Brasil por muito tempo, quer exercer sua profissão de jornalista, mas com a esperança de que os governantes não mudem seus pensamentos  e não se tornem igual aos que destruíram a Venezuela. Que façam além da política, que procurem manter um povo satisfeito, rico e culturalmente avançado.

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